ATA DA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 23.04.1987.

 


Aos vinte e três dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Sétima Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do título honorífico de Cidadã Emérita à Senhora Antonieta Barone. Às dezesseis horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, a Sra. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver.ª Teresinha Chaise, 1ª Vice-Presidente do Legislativo e, neste ato, Presidente em exercício; Sra. Antonieta Barone, Homenageada; Sra. Neusa Canabarro, Secretária Municipal de Educação e Cultura e, neste ato, representando o Sr. Prefeito Municipal; Sr. Altair de Lemos, Cônsul do Peru e representante do Corpo Consular em Porto Alegre; Dra. Cléa Carpi da Rocha, Vice-Presidente da OAB - RS; Irmão Liberato, Vice-Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e, neste ato, representando o Reitor da PUC - RS; Major Sílvio Carriço Ribeiro, representando o Comandante Geral da Brigada Militar; Jornalista Mário Emílio Menezes, representando, neste ato, a Associação Riograndense de Imprensa: Ver. Frederico Barbosa, 2º Secretário do Legislativo. A seguir, a Sra. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade e concedeu a palavra aos oradores que falariam em nome da Casa. O Ver. Frederico Barbosa, em nome de PFL e do Ver. independente Jorge Goularte e na condição de autor da proposição que originou a presente homenagem, discorreu sobre o trabalho de Antonieta Barone nas áreas da educação, da arte e da cultura, bem como sobre sua atuação como administradora, afirmando a justeza da presente homenagem. Congratulou-se com Antonieta Barone por sua colaboração no desenvolvimento social, político e cultural do povo porto-alegrense. O Ver. Rafael Santos, em nome do PDS e do PDT, declarou sua honra em prestar a presente homenagem, falando sobre o lado humano da Homenageada e seu trabalho em benefício da cultura, das artes e da educação. Destacou a perseverança e a dedicação da professora Antonieta Barone nas causas às quais se dedicou e afirmou ser o presente título a mais justa homenagem da comunidade porto-alegrense. O Ver. Antonio Hohlfeldt, em nome do PT e do PC do B, lembrou haver sido uma das inúmeras pessoas beneficiadas com a presença e com os ensinamentos de Antonieta Barone, salientando o cuidado e a dedicação com que S.Sa. sempre transmitiu as informações àqueles a quem ensinou. Afirmou que a presente homenagem engrandece a Cidade de Porto Alegre e este Legislativo. E o Ver. Lauro Hagemann, em nome do PCB, saudou a Homenageada pelo merecido título recebido, dizendo ser Antonieta Barone uma pessoa imprescindível à sociedade por tudo o que fez e pelo que ainda irá fazer pelo progresso da humanidade. Afirmou que a Cidade de Porto Alegre se regozija ao conceder o título de Cidadã Emérita a uma figura tão merecedora como Antonieta Barone. Após, a Sr.ª Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega do título de Cidadã Emérita à Sra. Antonieta Barone, procedida pelo Ver. Frederico Barbosa e concedido pela Resolução n.º 882, de 24.09.1986. Em prosseguimento, a Sra. Presidente concedeu a palavra à Sra. Antonieta Barone, que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Às dezessete horas e seis minutos, a Sra. Presidente fez pronunciamento ao ensejo do encerramento da presente solenidade, convidou os presentes a passarem à Sala da Presidência, convocou os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, e declarou encerrados os trabalhos. Os trabalhos foram presididos pela Vereadora Teresinha Chaise e secretariados pelos Vereadores Frederico Barbosa e Hermes Dutra, o último como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Frederico Barbosa, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Srs. Presidente e 1ª Secretária.

 

 


A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): Havendo número legal, declaro abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do título honorífico de Cidadã Emérita à Senhora Antonieta Barone.

Solicito aos Srs. Líderes de Bancada que conduzam ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. (Pausa.)

Convido a fazerem parte da Mesa: Sra. Antonieta Barone, homenageada; Sra. Neusa Canabarro, Secretária da SMED, e neste ato, representando o Sr. Prefeito Municipal; Sr. Altair de Lemos, Cônsul do Peru e representando o Corpo Consular em Porto Alegre; Dra. Cléa Carpi da Rocha, Vice-Presidente da OAB - RS; Irmão Liberato, Vice-Reitor da PUC, representando neste ato o Reitor desta Universidade; Major Sílvio Carriço Ribeiro, representando o Comandante-Geral da Brigada Militar; Jornalista Mário Emílio Menezes, representando, neste ato, a Associação Riograndense de Imprensa.

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): A seguir, passaremos a palavra ao Ver. Frederico Barbosa, que falará em nome do PFL.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Sra. Presidente, Srs. Vereadores e Senhores convidados, é com muita honra que falo, em nome da Bancada do PFL - Partido da Frente Liberal, na entrega de título honorífico à Sra. Antonieta Barone, professora com reconhecidos trabalhos realizados nas áreas da educação, da arte e da cultura.

Esta Casa, que representa os desejos, os anseios, e os reconhecimentos àqueles que, de uma forma ou de outra, lutam, vibram, trabalham e engrandecem nossa Capital em suas mais variadas áreas de relações humanas, tem a grata satisfação de conviver, nesta tarde de abril, com uma mulher que certamente realizou seu trabalho e continuará a fazê-lo, como professora e educadora que em todos os momentos, mesmo quando iniciou sua carreira, no interior do Estado, jamais esqueceu suas preocupações artístico-culturais, sempre voltada à realização de uma obra sobre certo aspecto anônima, mas de grande alcance junto à comunidade gaúcha.

Se, de um lado, homenageamos a professora e educadora, de outro, não podemos esquecer a administradora cultural com reconhecida sensibilidade. O título que ora lhe é entregue foi instituído para louvar a todo aquele que, por decisão soberana do Plenário, representado pelas várias correntes partidárias, “tenha contribuído, com seu trabalho, para o desenvolvimento social, político, cultural e artístico da sociedade porto-alegrense”. Mesmo sendo o autor da proposição, arrisco afirmar, sem medo de errar, que Antonieta Barone reúne qualidades de sobra no enquadramento das exigências legais para recebimento de tal diploma, pois deu muito de si pela cultura do Rio Grande do Sul. Examinando seu currículo, que se lido aqui, na íntegra, certamente justificaria, por si só, esta Sessão Solene, encontramos o traço marcante de sua atuação pública, desde o curso normal, o aperfeiçoamento pedagógico, os cursos de extensão, os estágios e as observações de instituições culturais em vários países, sempre com a idéia voltada ao aprimoramento da educação, da arte e da cultura, para bem servir a todos quantos pudessem usufruir seu excelente saber.

Um fato importante na vida de Antonieta Barone é que, com inúmeros cursos e tendo ocupado relevantes funções, permaneceu sempre, sem alarde, numa simplicidade reconhecida, disposta a dar de si o melhor para a coletividade que dela necessita. Como tantas outras anônimas professoras de sua estirpe, aceitou desafios, vencendo-os todos, abraçando a difícil missão de ensinar àqueles que precisam de ensino, enfrentando e conhecendo os problemas da ignorância, da miséria, da falta de recursos, da fome, da subnutrição, enfim, ajudando os outros a desbravarem a difícil área do conhecimento humano, tão necessária para uma vida mais justa e mais digna.

Sua efetiva participação junto à coletividade é um verdadeiro painel que mostra alguém que basicamente acredita na educação porque ele humaniza e personaliza, desenvolvendo a inteligência e a liberdade, favorecendo a comunhão entre os homens.

Enfim, poderíamos passar longo tempo discorrendo sobre a vida, o trabalho e a marcante personalidade de nossa homenageada, que ao lado de seu falecido e estimado irmão Dante, para quem tive a honra de propor título idêntico, formou uma dupla a quem esta Cidade muito deve.

A solenidade é da Câmara como protocolo, mas, sempre afirmo nestas ocasiões, é muito mais daqueles que aqui acorrem para um fraterno abraço de amizade e de carinho, numa verdadeira festa que, se acionada e conduzida pelos representantes populares, é de todos quantos a ela têm carinho e respeito.

É uma vida de atuação reconhecida, que atesta, por si só, como é do conhecimento de todos, a qualidade de um grande trabalho em favor da nossa gente. Obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): Com a palavra, o Ver. Rafael Santos, que falará pelo PDS e PDT.

 

O SR. RAFAEL SANTOS: Sra. Presidente, Srs. Vereadores e Senhores convidados, recebi a honrosa incumbência de usar da palavra, no dia de hoje, em nome do meu partido - Partido Democrático Social - aqui representado, nesta Casa, pelos Vereadores Hermes Dutra, Mano José e este Vereador que vos fala, bem como a solicitação do ilustre Líder do Partido Democrático Trabalhista, Ver. Cleom Guatimozim, de que também expressasse, em nome do PDT, as congratulações a nossa homenageada de hoje.

 O orador que me antecedeu já expôs de maneira muito clara e muito correta o trabalho desenvolvido por Antonieta Barone como pessoa, como educadora e como administradora. Quero falar, ainda que rapidamente, na pessoa humana, na mulher Antonieta Barone, que com sua voz suave e com seus gestos delicados e gentis soube tão bem e de maneira tão marcante passar pelos mais variados e mais diversos setores da nossa sociedade, marcando sempre, com sua passagem, um trabalho extraordinário em benefício da educação, da cultura e das artes. Orgulho-me de pertencer àquele grupo privilegiado de pessoas que conhece Antonieta Barone há largos anos e que a acompanhou, de forma ora mais próxima, como numa certa época em que trabalhamos juntos na Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, ora mais distante, cada um na sua atividade específica, mas vendo sempre em Antonieta Barone aquela pessoa que, muito mais que a palavra, arrastava e comandava, exatamente pelo exemplo de trabalho, de perseverança e dedicação às causas que abraçava. E é por isso que entendo e entendem a Bancada do PDS e a Bancada do PDT que nada mais justo e forte para representar o que Porto Alegre deve à Antonieta Barone do que lhe entregar este título de Cidadã Emérita. Realmente, Antonieta Barone, pelo seu trabalho, pela sua dedicação e esforço em benefício da nossa Cidade, era credora de nossa consideração e de nossa homenagem. A Câmara Municipal de Porto Alegre, no dia de hoje, e em nome de toda a população que representa, está, na realidade, resgatando uma dívida que tinha com Antonieta Barone. Está entregando-lhe o título de Cidadã Emérita para que fique registrado, nos Anais desta Casa e na história de Porto Alegre, que aqui viveu, que aqui trabalhou, que aqui deu o melhor de sua dedicação, uma pessoa como Antonieta Barone. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): Com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará pelo PT e PC do B.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sra. Presidente, Srs. Vereadores e Senhores presentes, na verdade não há, nos anos em que Antonieta Barone esteve nesta Cidade, e isto representa todos os anos de sua vida, não há uma única iniciativa, uma única ação cultural, uma única ação benemerente que não tenha tido, se não a iniciativa de Antonieta Barone, sem dúvida, sua participação e sua adesão decisiva. Nesse sentido não é apenas, prezada Antonieta Barone, um depoimento do Vereador, mas o depoimento de alguém que, com toda a certeza, dentre tantas pessoas a quem se deve alguma coisa, eu citaria pelo menos duas pessoas que estão no Plenário, hoje: Paulo Fontoura Gastal, com quem comecei a trabalhar no “Correio do Povo”, há 20 anos, e nosso sempre prezado Maurício Rosemblat, com quem aprendi a conhecer mais o problema do livro. Mas, além desses homens, devo muito a Dante Barone, pela mão de quem entrei, pela primeira vez, no Teatro São Pedro, quando não tinha dinheiro para pagar ingresso, e devo muito a Antonieta Barone com quem tive a honra de trabalhar, embora muito pouco, embora talvez até, às vezes, divergindo numa adolescência apressada, mas de quem aprendi algumas coisas e de quem guardei uma imagem básica. Falou-se da professora, mas arriscaria dizer que Antonieta Barone em todos os seus momentos de vida, em todas as suas atividades, mesmo distante de uma sala de aula, tinha sempre a postura de pedagoga, daquela que tinha um cuidado muito grande de ensinar, de transmitir as coisas que havia aprendido com sua prática, com a luta, sem obrigar as pessoas a aceitar àquelas posições. Essa foi uma imagem que guardei. Nos poucos meses que atuei junto ao Teatro São Pedro e Museu de Arte do Rio Grande do Sul, quando Antonieta era diretora da área cultural do Estado, guardei isto, da pessoa que confiava nas gerações mais jovens, da pessoa que tinha a tranqüilidade de ouvir a todos antes de decidir, e, sobretudo, da pessoa que gostava de descentralizar as ações a serem desenvolvidas. Neste sentido é que me ficou sempre a imagem de Antonieta Barone, professora, mesmo fora da sala de aula, porque uma professora tenta permanentemente as coisas novas, capaz de assimilá-las e imediatamente de retransmiti-las. Gostaria de destacar que, dentre tantas autoridades na área de cultura que o Estado do RS experimentou ao longo de décadas, foi Antonieta Barone a primeira capaz de organizar com um conjunto de outros intelectuais e abnegados - e gostaria de lembrar dentre outros Oswaldo Goidanich, Paulo Antônio, que se encontra hoje aqui, Guilhermino César e tantos outros - o que talvez seja o primeiro documento formal de análise do panorama cultural do Estado, que viria a ser publicado através de um número especial do então “Caderno de Sábado”, do “Correio do Povo”, editado pelo Paulo Gastal e que é praticamente hoje - e lembro até a data que Antonieta vai, com toda certeza, lembrar, 1972 - é praticamente, hoje, o documento referencial básico para que nós possamos ter toda e qualquer análise sobre a situação cultural do Estado e seus eventuais avanços, infelizmente, na maioria, de seus recuos. De todas essas lembranças que nos ficam ao longo de anos, eu diria que a coisa que, talvez, eu lembraria, para tentar não definir, mas para caracterizar a Professora Antonieta Barone, esta imagem de uma pessoa permanentemente surpresa e encantada com a vida. Uma pessoa que, com toda a certeza, justifica e exemplifica a poderosa influência de italianos e alemães que, de um modo geral, tiveram, em nosso Estado, mas, sobretudo, é a figura de Antonieta um referencial, uma espécie de paradigma da Cidade de Porto Alegre, do Estado do Rio Grande do Sul, e, com toda a certeza, seu eventual afastamento de nosso convívio empobrece a Cidade, empobrece o Estado. E, ao contrário, a homenagem que esta Casa presta, por iniciativa do Ver. Frederico Barbosa, é uma homenagem que engrandece não a homenageada, mas, com toda a certeza, a Cidade e esta Casa, que reconhecem a homenagem merecida e devida. Por isso a mim me cabe, Professora Antonieta Barone, falando em meu nome pessoal, em nome do Partido dos Trabalhadores, em nome da Ver.ª - Jussara Cony, do Partido Comunista do Brasil, que está desenvolvendo uma outra tarefa enquanto Vereadora, entre as múltiplas tarefas que todos nós devemos ter no cotidiano, nesta Casa, de que gostaria de dizer que, sobretudo, quero agradecer à Senhora a possibilidade de termos convivido e de a termos nesta Cidade de Porto Alegre e dizer-lhe que guardo comigo a imagem da abelha mestra, daquela que vai construindo com carinho a sua colméia e vai produzindo o mel de cultura, que é um mel, a contrário da formiga da lenda, não vai ser negado aos demais. Como a formiga-rainha, também  Antonieta Barone é capaz de produzir, de amealhar, de guardar e, posteriormente, de distribuir entre todos aquilo que guardou ao longo do tempo. Por tudo isto, acho que esta homenagem é mais do que devida, e a presença de tantas pessoas nesta Casa, de tantos segmentos diferentes representativos da Cidade e do Estado justificam do acerto da lembrança do nome de Antonieta Barone para esta homenagem. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): Com a palavra, o Ver. Lauro Hagemann, que falará pelo PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sra. Presidente, Srs. Vereadores e Senhores presentes, em nome do Partido Comunista Brasileiro, não poderia deixar de saudar a nossa ilustre conterrânea por estar recebendo hoje, nesta Casa, por iniciativa do Ver. Frederico Barbosa, o título de Cidadã Emérita. Da professora Antonieta Barone se pode dizer, como Brecht, que “ela é uma das imprescindíveis”, por tudo o que fez, por tudo que ainda poderá fazer. Porque a juventude da professora Antonieta Barone ainda lhe permite vislumbrar, no outro lado do oceano, aqueles países que adotaram um novo regime e que estão contribuindo para o progresso da humanidade com uma outra visão social. Ela lá foi buscar novos ensinamentos, uma nova cultura, e eu não faço aqui a apologia da professora Antonieta Barone como membro de nenhum partido comunista. É uma cidadã, cidadã emérita de Porto Alegre, que vive e se consagra à educação, à cultura, às artes de sua Cidade.

Sou um dos privilegiados que conhece três membros da família Barone, dois deles, infelizmente, já falecidos. Todos lembraram aqui o Dante, mas lembro o Carlos que foi o “spalla” da OSPA, durante muitos anos, meu companheiro na Rádio Farroupilha. Com a Antonieta o meu relacionamento é mais recente. Com o Dante foram anos e anos de Teatro São Pedro, de Divisão de Cultura do Estado, de serviço, de todos os três, à cidade onde nasceram, onde se criaram, da cidade à qual amaram, e à qual serviram, cada um a sua maneira.

A simplicidade da Dona Antonieta não é preciso ressaltar. Ela faz as coisas à sua maneira; singelamente, mas com muito amor. E este amor à Cidade de Porto Alegre, hoje, reconhece, dando-lhe o título de Cidadã Emérita. Às vezes, as coisas vêm um pouco atrasadas, mas há hora para tudo. E a hora que a Cidade encontrou para homenagear a D. Antonieta foi essa, uma hora de outono em Porto Alegre, em que todas as coisas se revelam mais bonitas, em que o sol é mais intenso, em que a luminosidade é mais clara.

Por isso a Cidade se regozija ao conceder à D. Antonieta o título de Cidadã Emérita. Que ela possa permanecer conosco ainda por muito tempo. Não para engrandecer esse título, mas para que a Cidade possa se engrandecer de tê-lo dado à Dona Antonieta. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): Convidamos o Plenário, os amigos da Sra. Antonieta Barone, para que, de pé, façamos a entrega do prêmio, da homenagem conferida, de Cidadã Emérita.

Convido o Ver. Frederico Barbosa para fazer a entrega do Título.

 

(O Sr. Frederico Barbosa faz a entrega do Título.) (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): Neste momento, é com muito carinho que passo a palavra a nossa homenageada, Profª. Antonieta Barone.

 

A SRA. ANTONIETA BARONE: Sra. Presidente, Srs. Vereadores e senhores convidados: “Deu-se ao homem o mais temerário dos bens, a palavra, para que ele testemunhe o que é”. Esta frase de Holderling coloca a palavra num grau de importância máxima, no centro do ser, como meio inconfundível de revelação da sua essência. Por isto, eu temo que minhas palavras, simples, despojadas, não tenham a expressão necessária para dizer-lhes da dimensão do meu agradecimento e do meu afeto.

Eu quero saudar a todas estas pessoas que aqui me estão prestigiando e que, como eu disse, me confortam profundamente e me sensibilizam.

Vejo aqui esta nobre Mesa, como representantes de tantos setores da sociedade, mas vejo, também, neste Plenário, uma diversificação enorme de pessoas que, de outra parte, também são os representantes dos setores mais importantes desta minha querida Cidade de Porto Alegre. Aqui está o meu Presidente do Instituto Cultural Norte-Americano, aqui está também o meu Presidente da Aliança Francesa de Porto Alegre, aqui estão queridas amigas que o tempo vem estruturando, consolidando, no afeto e no respeito comum. Eu quero lhes dizer que estou gratíssima aos três oradores que falaram tão bem, tão bonito. Gratíssima a todos os Vereadores pela unanimidade de adesão à proposição do Dr. Frederico Barbosa. Mas estou duplamente agradecida a Frederico Barbosa. Ele já fez menção ao fato, como os demais fizeram também, tanto o Ver. Lauro Hagemann, como o Ver. Rafael Santos e o Ver. Antonio Hohlfeldt, a outros membros de minha família que, certamente, muito mais do que eu fizeram por esta Cidade amada. Mas eu lembro aqui - por isto eu digo que sou duplamente grata ao Ver. Frederico Barbosa - o meu irmão Dante, recentemente falecido, e que, como eu, por proposição do mesmo Vereador, foi também agraciado com este Título. Como todos sabem, eu recebi outros títulos, inclusive de governos estrangeiros. Títulos únicos, como foi a Comenda da Ordem das Artes e Letras da França, a única no Estado, pelo menos quando me foi concedida. A Comenda do Mérito Cultural da Polônia... E aqui eu vejo a Polônia representada nobremente pelo Comendador Zaluski, com sua família. Mas lhes digo isso, sem querer ser oportunista do momento, que nenhum título mais grato ao meu coração do que este que a Cidade, através dos seus edis, me confere neste momento. Eu amo Porto Alegre. Aqui nasci, aqui me criei. Só saí de Porto Alegre muito jovem, pela vez primeira, para ir trabalhar na tão longínqua Santa Rosa, onde era uma verdadeira aventura se chegar, porque nem condução direta nós tínhamos. A viagem, nós tínhamos que ir fazendo em etapas. Mas eu aprendi da mulher admirável que foi minha mãe que só se alcança dignidade através do esforço e da persistência e da honestidade. Essas três condições foram as que procurei ter sempre como norte em minha vida. Trabalhei em Santa Rosa, e vou lhes dizer mais: ingressei no magistério por contingência, porque era uma menina pobre sem pai e sem mãe e precisava trabalhar. Este ensinamento me veio de minha mãe, aquela pessoa que estava sempre presente para orientar os filhos no caminho do bem e da dignidade. Era todo o dia aquele cuidado, “não faça isso, não faça aquilo”. Por isso, eu dou importância à presença de mãe nos primeiros anos de vida de uma criança. Marca para todo o sempre. Imperecível aquela imagem e aquele exemplo principalmente. E, como eu lhes dizia, entrei no magistério por contingência, mas fiquei por opção. Porque, se não tivesse me encontrado naquele fazer de educadora, eu teria dignidade de escolher qualquer outra profissão, porque as há tão dignas quanto a do magistério. Mas eu me encontrei. Para mim foi uma verdadeira revelação estar em contato com aquelas crianças que eu amava profundamente, a ponto de aos sábados, quando era dia de folga, ainda convidá-los para ir para o mato para a gente usufruir um pouco da natureza, que lá em Santa Rosa, naquele tempo, era pródiga, e continua sendo, penso, até hoje. Mas, como lhes digo, nesses mais de 50 anos de continuado exercício de trabalho ao serviço público, somente interrompido agora no Conselho Estadual de Cultura, por um ato que me surpreendeu muito, intempestivo, mas até o dia de ontem continuei servindo à causa pública e com uma condição, que é aquela da dignidade de respeitar o trabalho que se faz. Porque a profissão exercida com alegria, com amor e conhecimento exige e desencadeia uma ligação feita com todo o ser, implicando necessariamente uma disponibilidade total, vocacional. No exercício de qualquer atividade, principalmente no magistério, é preciso dar-se com inteireza. Assim como a economia no amor é a morte do amor, a economia no fazer degrada e mutila este fazer. E se há alguma qualidade que eu possa avocar a mim é a de nunca ter economizado no fazer. Eu sou muito grata às palavras que ouvi aqui dos Srs. Vereadores, cada um tomando uma faceta das afinidades que eu, ao longo desses anos, venho desenvolvendo, e grata quando disseram que sou uma pessoa simples. Sou simples. Sou despojada e tanto que hoje me sinto aqui quase que constrangida. Procurei dar exemplos e o Vereador Hohlfeldt assinalou um aspecto de minha pessoa que me gratificou muito, que foi aquele de nunca impor a minha idéia, o meu pensamento, mas conduzir pelo exemplo a que aquilo fosse feito, de descentralizar as atividades, dando autonomia às pessoas que dirigiam os órgãos da cultura no Rio Grande do Sul. Porque ou eles mereciam confiança e deviam ter autonomia para gerir o setor que lhes foi confiado ou não mereciam confiança e não deviam lá estar. Procurei e tenho a gratíssima satisfação - não orgulho, porque não sou orgulhosa - mas uma satisfação íntima do dever cumprido, de ter ouvido do Sr. Ministro da Educação, quando visitou a Secretaria de Educação, palavras textuais: “Eu a cumprimento, Dna. Antonieta. Eu não tenho isso no meu Ministério e nem em nenhum outro lugar do Brasil, cada organização que nós imprimimos ao Departamento de Assuntos Culturais, bem como, anteriormente, ao Departamento de Educação Artística”.  De modo, meus caros amigos, que eu me prezo e tenho a satisfação de considerar todos amigos. Estou aqui para agradecer. Considero que a pessoa que não tem condição de agradecer é uma pessoa quase subumana, porque o agradecimento é a qualidade nobre da pessoa humana. Saber reconhecer o benefício que se recebeu de alguém, quer seja em palavras, quer seja em obras, quer seja até num gesto de afeto carinhoso, eu acho que eleva a pessoa humana. A gratidão, como eu disse, é a qualidade nobre da pessoa humana, e eu vou, então mais uma vez, renovar, agradecer os amigos cujas presenças tanto me confortam neste momento.

Já disse do significado afetivo que este Título representa para mim. Foi direitinho lá para o meu coração. Ontem, eu ainda estive aqui, nesta Câmara, assistindo uma Sessão Solene de homenagem Luso-Brasileira e, quando nós saíamos com a Professora Isolda - esta grande mestra que aqui se encontra - eu contemplava o ocaso, eu contemplava o pôr-do-sol e via aquela beleza. Eu me surpreendo, às vezes, caminhando pelas ruas de Porto Alegre, emocionada, de novo, com aquela paisagem tantas vezes vista, mas sempre renovada de alguma maneira, sempre me dando uma mensagem nova de esperança. Eu sou uma pessoa otimista. E, como Álvaro Moreira, eu digo: “as amargas, não!”.

Que Deus, enquanto me conservar vida, que me conserve viva, com saúde, se possível, mas, principalmente, com o gosto pela vida. Eu amo a vida, eu amo as pessoas, eu gosto de gente. E é por isso que alguns ainda me acham jovem. Porque eu não trago amargura no coração, eu não trago inveja e eu não trago, também, aquela coisa de querer subir diminuindo os outros, pois esta é uma mentalidade de fundo de poço, que eu me prezo em não ter. E, como já disse, eu penso que essa tranqüilidade que tenho constantemente, em que pesam tantas e tantas mágoas que a vida vai juntando em nossos caminhos, onde também estão as alegrias, mas sempre maior número de mágoas e pesares, de decepções também, sempre estou contente, estou alegre. Lá estou vendo a Prof.ª  Sara Azambuja Rola, dos meus primeiros tempos, quando éramos quase meninas; agradeço pela sua presença. Estou vendo também o Comandante da Capitania dos Portos, o Presidente Ledur, e tanta gente boa, que, se fosse citar todo o mundo, teria que fazer um rosário. Muito obrigada a todos. Então, como lhes disse, acho que o que dá sentido à vida de uma pessoa é não se economizar no fazer: é se dar totalmente e integralmente. E eu termino meu pronunciamento com as palavras sábias e belas de Fernando Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro; nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa, enquanto és, no mundo, o que fazes. Assim, em cada lago, a lua toda brilha porque vive”. Muito obrigada. (Palmas.)

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): A Presidência, através de sua Vice-Presidente, agradece o comparecimento das pessoas que aqui se representam, do jornalista Menezes, representando à ARI; do nosso Cônsul e queridíssimo amigo, figura tão prestigiada em Porto Alegre, Dr. Altair de Lemos; do  nosso querido Irmão Liberato, representando à PUC; da nossa querida Dra. Cléa da Rocha; da nossa Secretária de Educação e Cultura, Prof.ª Neuza Canabarro; do Major Sílvio Ribeiro, representante da Brigada Militar. Agradece também em ver, no Plenário, a figura dos representantes da imprensa, senhores cônsules, da querida Maria Isaura Carneiro, da Academia Feminina de Letras; da querida Mila Cauduro; da Neusa Salatino; da Jandira de Lemos e de tantas figuras que também pertencem a minha época e minha geração. Neste momento, falando em nome pessoal e não da Câmara, não posso esconder a emoção que a filha de um operário que galgou com muito sacrifício seu caminho de vida e que fez seu estudo na Escola Normal do Instituto de Educação Gen. Flores da Cunha, que tinha na senhora uma figura ímpar e ideal como mulher e como professora, jamais poderia imaginar que, anos após, estaria aqui nesta Casa do Povo, representando vários segmentos da Cidade de Porto Alegre, principalmente a mulher porto-alegrense, que estivesse aqui para saudá-la com esta emoção, com este carinho, com todos seus amigos, trazer-lhe esta homenagem da qual, Ver. Frederico Barbosa, estou com muita inveja por teres tido essa lembrança maravilhosa de dar o título de Cidadã Emérita a esta pessoa que tanto ama esta Cidade. Como disse nosso amigo, Ver. Lauro Hagemann, nesta hora de outono, não é que eu esteja numa fase outonal ou nostálgica, mas acho que temos de amar as coisas e a vida e, como Antonieta Barone disse, ela que tanto ama a vida, por tudo que ela deu, por tudo que ela dedicou e trabalhou, deu amor à vida, Antonieta, nós, os teus amigos, te amamos. (Palmas.)

Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão e convoco os Srs. Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental.

Estão levantados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 17h06min.)

 

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